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Os Mitos da Propaganda Falsa na antiga URSS

Atualizado: 22 de mar.

Durante sua existência, a União Soviética utilizou uma poderosa máquina de propaganda para disseminar narrativas que exaltavam suas conquistas e ocultavam suas falhas. Após o colapso do regime em 1991, historiadores e pesquisadores tiveram acesso a documentos e evidências que desmentiram muitas dessas histórias. A seguir, apresentamos seis das mentiras mais notórias propagadas pela URSS e como foram desmascaradas.​


  1. O Mito da Invenção Americana da AIDS


Uma das campanhas de desinformação mais impactantes da KGB foi a disseminação da ideia de que o vírus da AIDS foi criado pelos Estados Unidos como uma arma biológica. Conhecida como Operação INFEKTION, essa teoria conspiratória ganhou força na década de 1980 e visava prejudicar a imagem dos EUA no cenário internacional. Somente após o fim da URSS, documentos revelaram que essa narrativa foi fabricada pela inteligência soviética, uma autêntica propaganda falsa.



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Algumas informações noticiadas no ocidente e que as vezes preocupavam a classe governamental podem ter sido fruto de propaganda e desinformação em massa, feito de forma proposital pelo regime soviético e seus espiões. Ilustração de IA


  1. A Fome Ucraniana (Holodomor) como Consequência de Fatores Naturais


Entre 1932 e 1933, a Ucrânia sofreu uma das mais devastadoras fomes da história, conhecida como Holodomor. Durante décadas, a narrativa oficial soviética atribuiu essa tragédia a fatores naturais, como condições climáticas adversas e colheitas ruins. Contudo, pesquisas posteriores revelaram que a fome foi resultado de políticas deliberadas do governo de Josef Stalin. Milhões de pessoas morreram de fome, e comunidades inteiras foram dizimadas. 


Impactos do Holodomor

O Holodomor teve consequências devastadoras para a população ucraniana. Houve um colapso social significativo, com famílias desestruturadas, perda de tradições culturais e um profundo sentimento de desconfiança em relação ao governo central. A tragédia também gerou um êxodo rural, com sobreviventes buscando melhores condições de vida em outras regiões.​


Leituras Recomendadas sobre o Holodomor

Para aqueles interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre essa tragédia infeliz, as seguintes obras são recomendadas:

  • "Colheita de Dor: A Fome Soviética de 1932-1933 e o Holocausto Ucraniano" de Robert Conquest.​

  • "Red Famine: Stalin's War on Ukraine" de Anne Applebaum.


3. A Negação do Massacre de Katyn


O massacre de Katyn foi uma execução em massa realizada pela União Soviética em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, contra aproximadamente 22 mil poloneses, incluindo oficiais militares, intelectuais e membros da elite polonesa. A operação foi organizada por Lavrenti Beria, chefe da NKVD, e aprovada por Josef Stalin sob o pretexto de que os prisioneiros representavam uma ameaça ao regime soviético. Os prisioneiros foram levados para diferentes locais de execução e mortos. Os assassinatos foram ocultados até 1943, quando as valas comuns foram descobertas por tropas nazistas, que usaram a informação como propaganda contra a União Soviética.


O governo soviético negou o massacre por décadas, atribuindo a culpa aos nazistas, e a verdade só veio à tona após a queda da URSS. Apenas em 2010, o parlamento russo reconheceu oficialmente que Stalin e seus aliados foram os responsáveis pelo massacre. O episódio de Katyn deixou marcas profundas na relação entre Polônia e Rússia e é lembrado como um símbolo da brutalidade do regime soviético e de suas tentativas de apagar crimes históricos por meio da propaganda e censura.




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O Massacre de Katyn foi um triste episódio ocorrido no século passado. Até hoje os males são relembrados como memória para que não se repitam. Ilustração de IA

4. A Suposta Superioridade Tecnológica do Programa Espacial Soviético

A União Soviética propagandeou amplamente suas conquistas espaciais, como o lançamento do Sputnik em 1957 e o envio de Yuri Gagarin ao espaço em 1961, como provas de sua superioridade tecnológica. Contudo, após 1991, descobriu-se que muitos desses feitos eram acompanhados de sérios problemas técnicos e que o programa espacial soviético enfrentava diversas dificuldades ocultadas pela propaganda estatal.

O Mito da Caneta Espacial

Durante a corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética, surgiu uma história que destacava a suposta engenhosidade soviética em contraste com a abordagem americana. Segundo essa narrativa, enquanto a NASA teria investido milhões no desenvolvimento de uma caneta que escrevesse em condições de gravidade zero, os soviéticos teriam optado pela solução simples e econômica de utilizar lápis. No entanto, essa história é mais mito do que realidade.​



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A Corrida Espacial foi um importante embate de supremacia tecnológica entre os EUA e a URSS, com muita propaganda sobre qual bloco era melhor que o outro, e que no fim, os EUA saiu vantajoso com o pouso na lua. Ilustração de IA


Uso de Lápis e a Adoção da Caneta Espacial

Tanto a NASA quanto a agência espacial soviética inicialmente utilizaram lápis em suas missões. Contudo, os lápis apresentavam riscos significativos, por conta do grafite que pode despedaçar-se e conduzir eletricidade. Foi então que, na década de 1950, o inventor americano Paul C. Fisher desenvolveu uma caneta esferográfica capaz de escrever em condições extremas, incluindo ausência de gravidade, e ofereceu o produto à NASA. A agência aprovou seu uso, adquirindo unidades para as missões Apollo. ​Reconhecendo as limitações dos lápis, os soviéticos também acabaram adotando a Caneta Espacial Fisher em 1969. 


5. A Economia Planificada como Modelo de Eficiência


A economia planificada da União Soviética era baseada na centralização estatal das decisões econômicas, eliminando mecanismos de mercado para definir preços e distribuir recursos. O governo estabelecia metas de produção por meio de planos quinquenais, que eram rigidamente seguidos pelas indústrias e setores produtivos.

Um sistema irregular

Uma das maiores fraquezas desse sistema era a burocracia excessiva, que tornava lenta qualquer tentativa de ajuste econômico. Como os preços não eram determinados pela oferta e demanda, havia uma alocação ineficaz de recursos, levando tanto a escassez de bens essenciais quanto à superprodução de itens desnecessários. O exemplo dos pregos gigantes fabricados apenas para cumprir metas numéricas ilustra bem essa distorção. Além disso, a baixa qualidade dos produtos soviéticos era uma consequência direta da falta de concorrência e inovação, já que as empresas não precisavam se preocupar com a satisfação dos consumidores.


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O controle de produção e mal planejamento da economia soviética fez surgir casos curiosos, como alguns relatos de fábricas que, para atingir metas de produção de pregos por peso, criavam aberrações gigantes, mesmo que sem nenhum propósito real.


Apesar da propaganda sobre sua autossuficiência, a economia soviética dependia do comércio internacional, especialmente da exportação de petróleo e gás natural. A queda nos preços dessas commodities nos anos 1980 agravou a crise do regime, expondo sua fragilidade e acelerando seu colapso. A União Soviética não conseguiu sustentar sua economia apenas com base na planificação interna, contrariando o discurso oficial de independência econômica.

Previsões de Fracasso Econômico

Economistas como Ludwig von Mises e Friedrich Hayek já haviam previsto os problemas desse modelo. Em sua obra O Cálculo Econômico na Comunidade Socialista (1920), Mises argumentou que, sem um sistema de preços baseado no mercado, era impossível fazer um planejamento eficiente da economia. Já Hayek apontou que a descentralização econômica permite melhor alocação de recursos, incentiva inovação e evita o desperdício característico dos sistemas centralizados. A experiência soviética confirmou essas previsões, demonstrando as vantagens das economias de mercado sobre os modelos planificados.



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O cálculo econômico em uma comunidade socialista, 1920 - Mises, Ludwig Von

Esses exemplos ilustram como a propaganda soviética construiu narrativas que mascaravam a realidade. Somente com o acesso a documentos e testemunhos após 1991 foi possível desmascarar essas mentiras e compreender a verdadeira extensão das manipulações realizadas pelo regime.


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