Os Mitos da Propaganda Falsa na antiga URSS
- Wesley Oliveira
- 16 de mar.
- 5 min de leitura
Atualizado: 22 de mar.
Durante sua existência, a União Soviética utilizou uma poderosa máquina de propaganda para disseminar narrativas que exaltavam suas conquistas e ocultavam suas falhas. Após o colapso do regime em 1991, historiadores e pesquisadores tiveram acesso a documentos e evidências que desmentiram muitas dessas histórias. A seguir, apresentamos seis das mentiras mais notórias propagadas pela URSS e como foram desmascaradas.
O Mito da Invenção Americana da AIDS
Uma das campanhas de desinformação mais impactantes da KGB foi a disseminação da ideia de que o vírus da AIDS foi criado pelos Estados Unidos como uma arma biológica. Conhecida como Operação INFEKTION, essa teoria conspiratória ganhou força na década de 1980 e visava prejudicar a imagem dos EUA no cenário internacional. Somente após o fim da URSS, documentos revelaram que essa narrativa foi fabricada pela inteligência soviética, uma autêntica propaganda falsa.

A Fome Ucraniana (Holodomor) como Consequência de Fatores Naturais
Entre 1932 e 1933, a Ucrânia sofreu uma das mais devastadoras fomes da história, conhecida como Holodomor. Durante décadas, a narrativa oficial soviética atribuiu essa tragédia a fatores naturais, como condições climáticas adversas e colheitas ruins. Contudo, pesquisas posteriores revelaram que a fome foi resultado de políticas deliberadas do governo de Josef Stalin. Milhões de pessoas morreram de fome, e comunidades inteiras foram dizimadas.
Impactos do Holodomor
O Holodomor teve consequências devastadoras para a população ucraniana. Houve um colapso social significativo, com famílias desestruturadas, perda de tradições culturais e um profundo sentimento de desconfiança em relação ao governo central. A tragédia também gerou um êxodo rural, com sobreviventes buscando melhores condições de vida em outras regiões.
Leituras Recomendadas sobre o Holodomor
Para aqueles interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre essa tragédia infeliz, as seguintes obras são recomendadas:
"Colheita de Dor: A Fome Soviética de 1932-1933 e o Holocausto Ucraniano" de Robert Conquest.
"Red Famine: Stalin's War on Ukraine" de Anne Applebaum.
3. A Negação do Massacre de Katyn
O massacre de Katyn foi uma execução em massa realizada pela União Soviética em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, contra aproximadamente 22 mil poloneses, incluindo oficiais militares, intelectuais e membros da elite polonesa. A operação foi organizada por Lavrenti Beria, chefe da NKVD, e aprovada por Josef Stalin sob o pretexto de que os prisioneiros representavam uma ameaça ao regime soviético. Os prisioneiros foram levados para diferentes locais de execução e mortos. Os assassinatos foram ocultados até 1943, quando as valas comuns foram descobertas por tropas nazistas, que usaram a informação como propaganda contra a União Soviética.
O governo soviético negou o massacre por décadas, atribuindo a culpa aos nazistas, e a verdade só veio à tona após a queda da URSS. Apenas em 2010, o parlamento russo reconheceu oficialmente que Stalin e seus aliados foram os responsáveis pelo massacre. O episódio de Katyn deixou marcas profundas na relação entre Polônia e Rússia e é lembrado como um símbolo da brutalidade do regime soviético e de suas tentativas de apagar crimes históricos por meio da propaganda e censura.

4. A Suposta Superioridade Tecnológica do Programa Espacial Soviético
A União Soviética propagandeou amplamente suas conquistas espaciais, como o lançamento do Sputnik em 1957 e o envio de Yuri Gagarin ao espaço em 1961, como provas de sua superioridade tecnológica. Contudo, após 1991, descobriu-se que muitos desses feitos eram acompanhados de sérios problemas técnicos e que o programa espacial soviético enfrentava diversas dificuldades ocultadas pela propaganda estatal.
O Mito da Caneta Espacial
Durante a corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética, surgiu uma história que destacava a suposta engenhosidade soviética em contraste com a abordagem americana. Segundo essa narrativa, enquanto a NASA teria investido milhões no desenvolvimento de uma caneta que escrevesse em condições de gravidade zero, os soviéticos teriam optado pela solução simples e econômica de utilizar lápis. No entanto, essa história é mais mito do que realidade.

Uso de Lápis e a Adoção da Caneta Espacial
Tanto a NASA quanto a agência espacial soviética inicialmente utilizaram lápis em suas missões. Contudo, os lápis apresentavam riscos significativos, por conta do grafite que pode despedaçar-se e conduzir eletricidade. Foi então que, na década de 1950, o inventor americano Paul C. Fisher desenvolveu uma caneta esferográfica capaz de escrever em condições extremas, incluindo ausência de gravidade, e ofereceu o produto à NASA. A agência aprovou seu uso, adquirindo unidades para as missões Apollo. Reconhecendo as limitações dos lápis, os soviéticos também acabaram adotando a Caneta Espacial Fisher em 1969.
5. A Economia Planificada como Modelo de Eficiência
A economia planificada da União Soviética era baseada na centralização estatal das decisões econômicas, eliminando mecanismos de mercado para definir preços e distribuir recursos. O governo estabelecia metas de produção por meio de planos quinquenais, que eram rigidamente seguidos pelas indústrias e setores produtivos.
Um sistema irregular
Uma das maiores fraquezas desse sistema era a burocracia excessiva, que tornava lenta qualquer tentativa de ajuste econômico. Como os preços não eram determinados pela oferta e demanda, havia uma alocação ineficaz de recursos, levando tanto a escassez de bens essenciais quanto à superprodução de itens desnecessários. O exemplo dos pregos gigantes fabricados apenas para cumprir metas numéricas ilustra bem essa distorção. Além disso, a baixa qualidade dos produtos soviéticos era uma consequência direta da falta de concorrência e inovação, já que as empresas não precisavam se preocupar com a satisfação dos consumidores.

Apesar da propaganda sobre sua autossuficiência, a economia soviética dependia do comércio internacional, especialmente da exportação de petróleo e gás natural. A queda nos preços dessas commodities nos anos 1980 agravou a crise do regime, expondo sua fragilidade e acelerando seu colapso. A União Soviética não conseguiu sustentar sua economia apenas com base na planificação interna, contrariando o discurso oficial de independência econômica.
Previsões de Fracasso Econômico
Economistas como Ludwig von Mises e Friedrich Hayek já haviam previsto os problemas desse modelo. Em sua obra O Cálculo Econômico na Comunidade Socialista (1920), Mises argumentou que, sem um sistema de preços baseado no mercado, era impossível fazer um planejamento eficiente da economia. Já Hayek apontou que a descentralização econômica permite melhor alocação de recursos, incentiva inovação e evita o desperdício característico dos sistemas centralizados. A experiência soviética confirmou essas previsões, demonstrando as vantagens das economias de mercado sobre os modelos planificados.

Esses exemplos ilustram como a propaganda soviética construiu narrativas que mascaravam a realidade. Somente com o acesso a documentos e testemunhos após 1991 foi possível desmascarar essas mentiras e compreender a verdadeira extensão das manipulações realizadas pelo regime.
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